domingo, 19 de maio de 2013

A NASCENTE




Cada um de nós é uma fonte, tênue e frágil. Sempre que vir um rio enorme, lembre-se que o começo dele é muito delicado. A nascente está sempre em um declive ou na encosta de uma montanha, num lugar de difícil acesso.

Lá está a mina, um filete de água cercado de todos os cuidados pela natureza. Ou está num pântano, onde não dá para se chegar; ou está envolto em muita vegetação, por entre terra e pedras.

Desce e desliza como criança. Nasce com todas as dificuldades, com as quais também nascemos. E vai pela vida, crescendo, cercado de amor e cuidado. Começa a crescer por obra de outras minas e fontes.

Quando chega na fase adulta, não dá mais para ser sozinho, porque, por obra dos declives e acidentes geográficos, almeja alcançar o mar. Mas para isso, outros rios irão se agregar, desaguando uns nos outros, para se fortalecerem, tornarem-se grandes e profundos.

O amor sempre nos leva em direção ao mar.

Se quisermos ser fortes, precisamos aceitar a presença do outro. E assim, há a necessidade de perder-se o ego.

Todo mar é o somatório de milhões e milhões de outros rios, e ao se fazer o caminho inverso, retorna-se àquela fonte.

Nessa hora é preciso morrer, matar o ego. Só assim pode-se ir em direção ao mar.

Mesmo sendo um grande rio, imenso e profundo, ao encontrar-se com o mar ficará muito pequeno.

Ao lembrar-se daquele filete d’água, retorna-se à fonte.

Não tem como ser um grande rio, sem aceitar a presença do outro. É preciso compreender que se é a mesma água; e também se é o outro.

Texto extraído do livro: Sentidos.

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